segunda-feira, 6 de abril de 2015

Pombo-Correio no Espírito Santo tem vida de atleta de elite e valor de campeão olímpico

Eles têm vida de competidor de elite. Treino diário com até duas horas de voo livre, alimentação "turbinada" para manter o nível de disputa e acompanhamento em tempo integral, com direito a um chip que funciona como uma carteira de identidade. Os atletas são, na verdade, pombos. E participam anualmente de competições de voos de curta, média e longa distância no Espírito Santo e em todo o país.

Embora muitos ainda não conheçam, a Columbofilia - como é chamada a criação de pombos-correio para competição - é uma prática comum no mundo inteiro, e bastante antiga. Surgiu na Bélgica, no século XIX. No Espírito Santo, mais de 20 criadores dos "futuros atletas" que participam dos campeonatos em níveis estadual e nacional
Fotos: Leonardo Soares | Gazeta Online
Leonardo Soares
Os pombos competidores são identificados com anilhas numeradas e microchipsMas treinar pombos-correio para competir está longe de ser aquela famosa história de colocar uma carta no bico do pombo e esperar que ele entregue em algum local, explica o presidente da Associação dos Criadores de Pombo-Correio do Espírito Santo, Vinícius Godinho Amarante.

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"Não é assim. O pombo é criado na sua casa, desde filhote. E quando você retira ele do ambiente em que ele está acostumado a viver e leva para outro local, a qualquer distância, a tendência é que ele retorne para o local que ele foi criado".

Para competir, os pombos precisam de cuidados especiais, como qualquer outro animal, para evitar parasitas e doenças. E a explicação para o regresso está no instinto do animal. "Ele tem uma noção de orientação muito aguçada, que ainda não existem estudos que comprovem o que é. Nada comprova o que é, alguns apostam que o pombo tem uma espécie de radar natural".
Leonardo Soares
Alimentação "turbinada" para fortalecer os campeões. A cada 10kg de milho são adicionados 4kg de uma mistura que é composta por nove grãos variados. Cada pombo come, em média, 25g a 30g por dia
Nascidos para vencer

A reprodução dos futuros campeões é feita com bastante estudo e cuidado. O cruzamento é realizado entre os machos e as fêmeas que tiveram os melhores resultados nos campeonatos anteriores. "Para você prepará-lo, você pega o que você tem de melhor no plantel e faz a reprodução. Com 30 dias de vida ele já pode ser separado dos pais e vai para o local onde vai ser treinado. Com três a quatro meses ele começa a ser treinado perto de casa".

Aos quatro meses, alguns pombos já conseguem voar distâncias de até 400 quilômetros, mas a decisão de inserir os novatos em percursos tão grandes vai de cada criador. Com pouco tempo eles já podem voar, em um único dia, até 800 quilômetros de distância. Mas para isso é preciso que o pombo esteja bem treinado. 

O tempo de atividade dos pombos é, em média, dos quatro meses até os cinco anos de idade. Após esse período os criadores optam por retirar as aves das competições, já que o animal já foi testado várias vezes e que já mostrou que é resistente. Mas ele continua servindo para a reprodução. E quando o assunto é columbofilia, as fêmeas estão longe de ser o sexo frágil.

"Não tem diferença na hora de voar. Alguns criadores gostam de competir só com fêmeas. Para treinar, elas são bem melhores. Elas treinam praticamente sozinhas. Já o macho dá mais trabalho. Ele gosta de pousar para marcar território. Você solta e ele voa. Mas logo quer voltar para rodear o poleiro das fêmeas".

Leonardo Soares
No pombal de Vinícius Godinho Amarante, presidente da Associação dos Criadores de Pombo-Correio do Espírito Santo, não é mais preciso ficar em casa esperando a volta dos pombos após a prova. Uma caixa (amarela, no alto da foto) foi instalada na entrada do pombal e registra a chegada de cada pombo
Competições

As competições no Estado acontecem no mês de junho, que é um período que não está tão quente. O campeonato tem quatro categorias. A primeira é a de Velocidade, de 100 a 300 quilômetros. Acima de 300 e até 600 é a categoria Meio Fundo. De 600 a 750 é a categoria Fundo. E acima de 800 quilômetros é a categoria de Grande Fundo.

O campeonato começa com a categoria de Velocidade. São quatro provas, com intervalos de uma semana. Cada criador pode enviar para competir até 30 aves do seu plantel, mas só duas vão marcar pontos. Os outros ajudam a empurrar os componentes para baixo. E vence o pombo que chega mais rápido de volta à casa do criador. Quando o pombo chega, é registrado o horário da chegada. E é feita uma apuração no final da prova.

Clima chuvoso e vento sul podem fazer com que a prova atrase um pouco. Mas uma prova de cerca de 200 quilômetros gasta, no máximo, três horas para a chegada do pombo em um dia com tempo bom. Em 2009 um pombo registrou o tempo de apenas 3h18m entre Teixeira de Freitas, na Bahia, e Vila Velha, no Espírito Santo. 

As rotas utilizadas nos campeonatos capixabas são: São Mateus, Pedro Canário, Posto da Mata e Teixeira de Freitas. Depois seguem pelas cidades de Itamaraju, Eunápolis, Camacã, Ilhéus e Feira de Santana. "Já tivemos leilões no Brasil que alguns pombos custaram valores entre R$ 15 e R$ 25 mil".
Foto: Leonardo Soares | Gazeta Online
Leonardo Soares
Curiosidades sobre os pombos-correio

- Em 1288, no Cairo, eram empregados 1900 pombos-correio no serviço postal regular.

- Mais de 30.000 pombos foram utilizados nas frentes de combate na 1ª Guerra Mundial. A Alemanha reconhecendo o perigo que corria, ordenou o extermínio dos pombos-correio nas regiões ocupadas.

- Na 2ª Guerra Mundial, sempre que as comunicações via rádio eram interceptadas, foram utilizados com êxito os pombos-correio para enviar mensagens.

- Em 1948, o governo português concedeu o Estatuto de Utilidade Pública ao pombo correio.

- Na década de 50, na Argentina, cerca de 60.000 pombos ainda serviam como meio de comunicação postal.

- A columbofilia continua, em diversos países, como em Espanha e Cuba, a depender do Ministério da Defesa.

- A Federação Columbófila Internacional, sediada em Bruxelas, reúne cerca de 60 países de todos os Continentes.

(FONTE: Federação Columbófila Brasileira)

matéria da http://gazetaonline.globo.com/

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